quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Menos de cinco horas de sono estão ligadas ao desenvolvimento de transtornos mentais

Jovens adultos com idades entre 17 e 24 anos e que dormem em média apenas cinco horas por noite têm até três vezes mais risco de desenvolver transtornos mentais quando comparados a indivíduos da mesma idade e que dormem entre 8 e 9 horas por noite, de acordo com um estudo publicado no periódico Sleep.
Os pesquisadores do Instituto George para Saúde Global, nos EUA, em conjunto com a Universidade de Sidney, na Austrália, e liderados por Nick Glozier, conduziram o estudo envolvendo mais de 20 mil indivíduos e indicaram uma ligação clara entre tempo de sono reduzido e o aparecimento de transtornos mentais.
“Nosso estudo revelou uma série de ligações entre esses dois fatores em adultos jovens e também que os transtornos desenvolvidos podem se tornar crônicos se a média de sono não for regulada”, diz Glozier.
O especialista diz que transtornos do sono são sintomas claros da instalação de transtornos mentais, como depressão, e um indicativo preliminar de outras condições de saúde que possam estar se instalando no organismo.
Além disso, a falta de sono ideal pode elevar o risco para doenças cardiovasculares e ganho de peso nos jovens. “As mudanças no estilo de vida são fatores que contribuem para esses problemas, mas o desequilíbrio no padrão de sono é denotativo de transtornos mentais diversos, como podemos observar”, aponta Glozier.
“Um sono ruim e com pouca duração, indicado pelos indivíduos que participaram do estudo, está realmente associado ao estresse em adultos. Em contraste, alguns dos participantes também desenvolveram outros tipos de problemas ligados ao estresse, além dos transtornos mentais. É preciso observar seriamente as alterações nesses padrões de sono e melhorar as intervenções nos problemas do sono nesses indivíduos jovens, pois isso tem um impacto negativo claro e pode ajudar a manutenção da saúde em longo prazo”, finaliza o pesquisador.

 
com informações do George Institute on Global Health

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

É legítimo recorrer a medicamentos para melhorar desempenho mental ?

Quem poderia ser contra drogas que ajudam as pessoas afetadas por distúrbios mentais, como a esquizofrenia? Esses tratamentos, conhecidos como reforçadores cognitivos farmacológicos (PCE na sigla em inglês), podem melhorar a memória, a atenção e a motivação.
O metilfenidato (Ritalina), por exemplo, ajuda as crianças com distúrbio de hiperatividade e déficit de atenção a se concentrar melhor na escola, muitas vezes produzindo importantes diferenças em suas vidas. O modafinil (Provigil) ajuda as pessoas a ficar acordadas e é licenciado para o tratamento da narcolepsia, uma condição que causa sono involuntário nos pacientes.
Até aí, ótimo. Mas nos últimos anos houve um aumento sem precedentes no uso de PCEs por pessoas saudáveis. Para muitos estudantes, é difícil resistir à tentação de tomar algumas pílulas para ajudar na concentração, especialmente na época dos exames. A maioria deles considera isso inofensivo e eticamente aceitável. Outros o veem como trapaça, e até hoje poucas universidades têm políticas formais sobre a questão.
Segundo um relatório de 2004 do "Journal of the American Medical Association", cerca de 90% do modafinil são usados por indivíduos saudáveis que não têm problemas de sono. Em março de 2009, uma pesquisa informal com mil estudantes feita pelo jornal "Varsity" dos alunos da Universidade de Cambridge, mostrou que um em cada dez estavam tomando medicamentos controlados para o reforço cognitivo. No ano anterior, a revista "Nature" realizou uma pesquisa com 1.400 cientistas de 60 países.

Eles descobriram que um em cada cinco respondentes usavam drogas para reforço cognitivo, e entre eles 62% relataram tomar metilfenidato e 44% modafinil, principalmente para melhorar a concentração; 15% disseram ter tomado betabloqueadores para ansiedade, quando essas drogas são normalmente prescritas para reduzir a pressão sanguínea ou para arritmia cardíaca.
Um professor americano diz que obteve suas drogas através de um médico de atendimento básico, alegando ter "jet lag", enquanto um professor britânico as conseguiu através da Internet para "melhorar a produtividade" e "para importantes desafios intelectuais". Mais preocupante, uma pesquisa de 2009 feita pelo Instituto Nacional dos EUA para Abuso de Drogas (NIDA) descobriu que 1,8% dos jovens de 13 a 14 anos, 3,6% de 15 a 16 e 2,1% de 17 a 18 anos abusaram de metilfenidato.
O uso generalizado de drogas para reforço da cognição talvez não seja surpreendente, já que o relatório sobre ciência do cérebro, dependência e drogas da Academia de Ciências Médicas em 2008 sugeriu que uma melhora de 10% na memória poderia levar a uma nota ou classificação maior. Pequenas melhoras no desempenho intelectual podem gerar melhoras significativas nos resultados.
Mas quais são as vantagens e desvantagens de pessoas saudáveis usarem PCEs? No lado positivo, como os PCEs podem ajudar os que têm baixo desempenho cognitivo, talvez fosse possível atenuar os efeitos da pobreza sobre o cérebro por meio de seu uso. Isto poderia ter efeitos positivos na sociedade e na economia em geral: estima-se que um aumento de 3% no QI da população como um todo poderia reduzir os índices de pobreza em até 25% e aumentar o PIB em 1,5%.
É claro que mesmo adultos saudáveis que normalmente funcionam bem não dão o melhor de si necessariamente o tempo todo, por causa de falta de sono, "jet lag" ou outros fatores de estresse. E os PCEs também poderiam nos permitir um melhor desempenho em situações agradáveis e competitivas. Por exemplo, Anjan Chatterjee, um neurologista da Universidade da Pensilvânia, relatou que os músicos muitas vezes usam betabloqueadores para atenuar tremores físicos, melhorando seu desempenho. Psicoestimulantes também são usados para reforçar soldados em combate, trabalhadores em turnos e pilotos.
Mas não se sabe o suficiente sobre os efeitos colaterais em longo prazo dos PCEs, especialmente no cérebro em desenvolvimento. Um relatório de 2009 do NIDA revelou que o modafinil estimulou áreas do cérebro conhecidas por desencadear comportamento que busca drogas e dependência.
Também devemos considerar por que essas drogas são usadas. É a pressão para se sair bem nos exames, fechar um bom negócio ou acompanhar nossa sociedade que incentiva as pessoas a usá-las, em vez de meios tradicionais para aumentar a cognição, como os exercícios?
Claramente, os neurocientistas precisam trabalhar com cientistas sociais, filósofos, éticos, políticos e outros especialistas para estabelecer regras claras, seguras e éticas para o uso de PCEs em pessoas saudáveis. Essa é a única maneira de que os grandes avanços feitos hoje na ciência possam ser utilizados para benefício máximo - com danos mínimos.

Fonte: UOL.NOTICIAS - Barbara J. Sahakian e Ahmed D. Mohamed

(Barbara J. Sahakian é professora de neuropsicologia clínica na Universidade de Cambridge. Ahmed D. Mohamed é aluno de doutorado no Clare Hall, em Cambridge.)
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Depressão infantil pode aparecer a partir dos 4 anos

O transtorno mental que mais atinge pacientes no mundo se aproxima das crianças, mas pode ser tratado – e, quanto mais cedo, melhor

Sob a forma de noites mal dormidas, insociabilidade, tristeza, alterações de humor como irritação e choro frequente, sofrimento moral e sentimento de rejeição, uma epidemia silenciosa pode se espalhar entre as crianças de todo o país, independentemente de condição social, econômica e cultural. Provocada por fatores que vão desde a predisposição genética até a experiência de episódios traumáticos no ambiente familiar, a depressão infantil traz problemas de gente grande para a mente ainda em desenvolvimento das crianças.


Nos próximos 20 anos, a depressão deverá se tornar a doença mais comum do mundo, atingindo mais pessoas do que o câncer e os problemas cardíacos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas são afetadas por transtornos mentais diversos, a maioria delas nos países em desenvolvimento.


Entre os pequenos, o índice de depressão também é preocupante. Nos últimos 10 anos, de acordo com a OMS, o número de diagnósticos em crianças entre 6 e 12 anos passou de 4,5 para 8%, o que representa um problema ascendente. "Setenta por cento dos adultos que apresentam quadro de depressão crônica têm histórico desde o período da infância. Ou seja, se não tratarmos o paciente enquanto criança, podemos contribuir para que ele se transforme em um adulto depressivo", conta Fábio Barbirato Nascimento da Silva, neuropsiquiatra especialista em infância e adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria.
O transtorno pode ser diagnosticado em crianças a partir dos 4 anos. Até os 9 anos, é indicado tratamento apenas à base de terapia. A partir dessa idade, de acordo com o quadro do paciente, pode ser recomendado o uso de medicação em paralelo ao acompanhamento psicológico. "A terapia sozinha fará um trabalho eficiente em longo prazo. No entanto, em crianças mais velhas, o uso de medicamento tem efeito bastante satisfatório quando acompanhado do trabalho psicológico, levando à resolução do problema em apenas dois meses em 95% do casos", completa.
As causas para a depressão infanto-juvenil podem ser as mais diversas. Há fatores biológicos, como vulnerabilidade genética, complicações obstétricas e temperamento; fatores ambientais, como o funcionamento familiar, a interação entre mãe e criança ou eventos adversos de vida, e fatores sociais, como a pobreza, o suporte social ou o acesso a serviços de saúde.
A convivência com uma psicopatologia dos pais e a experiência de episódios traumáticos nesta idade, como separação, luto ou mudanças radicais de ambiente, também podem ser fatores decisivos para o desencadeamento de transtornos mentais em crianças e adolescentes.
Fatores de berço
De acordo com Ana Vilela Mendes, psicóloga e pesquisadora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP, de 40 a 45% das crianças que convivem com a depressão materna apresentam indicadores diagnósticos de pelo menos um transtorno psiquiátrico.
Esta taxa é de três a quatro vezes maior do que a apresentada por crianças cujas mães não têm história psiquiátrica. "As manifestações próprias do quadro depressivo materno, como irritabilidade, desânimo e apatia, podem influenciar na qualidade do vínculo que a mãe estabelece com a criança, comprometendo a interação e o funcionamento emocional e social da criança", afirma ela.
O nível de exposição da criança à mãe com diagnóstico de depressão também pode ser definitivo para o desenvolvimento de seu quadro. Em estudo recente, Ana Vilela comparou crianças em idade escolar que conviveram com a depressão materna por toda a vida a crianças que conviveram com a depressão materna por um período menor de tempo. Ela constatou que as crianças com mais tempo de exposição à depressão materna apresentaram uma probabilidade 1,6 vezes maior de terem problemas psiquiátricos.
"Estes resultados reafirmam a importância de se considerar o tempo de exposição da criança à depressão materna e sua influência nos diferentes períodos do desenvolvimento", constata. Daí a importância da psiquiatria e da psicologia em favorecer o diagnóstico ainda no começo de sua manifestação.

Diagnóstico delicado
Por tratar-se de um transtorno mental impassível de comprovação laboratorial, o diagnóstico da depressão é baseado nos critérios estipulados pelo Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), que exige a existência de pelo menos cinco dos sintomas determinados pelo documento, com durabilidade de duas semanas, para comprovação do quadro. Entretanto, em crianças em plena fase de desenvolvimento da personalidade, a aplicação do diagnóstico pode ser mais complexa e delicada.
"Não é um diagnóstico simples de se obter, pois os sintomas podem ser confundidos com timidez, mau humor, dificuldade de aprendizagem, tristeza ou agressividade, que de certa forma podem ser normais na faixa etária em questão. O que diferencia a depressão das tristezas do dia a dia é a intensidade, a persistência e as mudanças em hábitos normais das atividades da criança", afirma Ana Vilela.
Um estudo realizado pela antropóloga Eunice Nakamura, pelo Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), revelou que não é apenas a complexidade da mente em desenvolvimento que pode ampliar a noção dos sintomas que causam a depressão. O estudo, que entrevistou famílias de regiões periféricas da cidade de São Paulo, constatou que diversos aspectos apontados como possíveis sintomas pelos pais e pelas próprias crianças diagnosticadas ultrapassam os critérios determinados pelo Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais.
"Do ponto de vista das famílias, o significado de depressão envolve tanto os aspectos da vida social quanto os sintomas indicados pelo discurso médico. A intolerância dos adultos em relação às crianças, que diante de condições de vida deliciadas ficam mais sensíveis e chorosas, e a ideia de insatisfação em geral, por exemplo, apareceram como indicação de sintomas de depressão", conta professora Eunice Nakamura, atualmente no núcleo de pesquisa antropológica da Unifesp Santos.
"Já que a ideia de depressão infantil, para estas famílias, envolve uma série de fatores externos, o grande desafio dos especialistas é pensar em tratamentos adequados ao que se avalia diante de cada ponto de vista da doença, uma vez que aspectos externos podem ser confundidos com sintomas", completa.
Transformação dos sintomas


Alteração de humor, irritabilidade, dificuldade para dormir ou muito sono durante o dia, além de pessimismo e autodepreciação, são comuns ao quadro de depressão encontrado tanto no adulto quanto no jovem. Mas em um momento em que a personalidade da criança está em pleno desenvolvimento, diagnosticar um transtorno mental é ainda mais difícil.
Segundo Fábio Barbirato, crianças em idade pré-escolar (até 5 anos) tendem a desenvolver sintomas como melancolia, enurese (xixi na cama), encoprese (eliminação de fezes involuntária) e crises de choro. Também podem ocorrer regressão no desenvolvimento psicomotor, insônia e pesadelos.
Em crianças na idade escolar (de 6 a 12 anos), os sintomas estão mais relacionados a aspectos de sociabilidade, como dificuldade acadêmica, problemas de relacionamento com a família e os colegas, irritabilidade e agressão crescentes, tédio, ganho ou perda de peso excessivo, cefaleia e dores de estômago.
Já entre os adolescentes, o transtorno passa não apenas a intensificar os sintomas encontrados na infância, como desencadeia uma série de comportamentos até mesmo fatais. "Esta fase do transtorno provoca nos jovens comportamentos anedóticos (incapacidade de sentir prazer), com quadros de tristeza intensa, condutas antissociais, ataques de pânico, queda no rendimento escolar, hipersonia (sonolência em excesso), e em casos mais extremos, promiscuidade sexual, abuso de drogas e até mesmo suicídio", afirma o médico.


Sintomas


O Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais determina a necessidade de identificar pelo menos cinco destes sintomas, com durabilidade de duas semanas, para comprovação do quadro. Fique atenta a esses sinais para saber quando levar seu filho para uma avaliação profissional.
1. Alteração de humor, com irritabilidade e ou choro fácil
2. Ansiedade
3. Desinteresse em atividades sociais, como ir a escola, brincar com os amigos ou com brinquedos
4. Falta de atenção e queda no rendimento escolar
5. Distúrbios de sono, como dificuldade pra dormir ou ter sono o dia inteiro
6. Perda de energia física e mental
7. Reclamações por cansaço ou ficar sem energia
8. Sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo
9. Dores na barriga, na cabeça ou nas pernas
10. Sentimento de rejeição
11. Condutas antissociais e destrutivas
12. Distúrbios de peso, emagrecer ou engordar demais
13. Enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes)

Fonte:R7.com